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Tristana Esteves Cardoso: "Todos os meus projetos têm o meu coração, não consigo trabalhar de outra forma."
Tristana Esteves Cardoso viveu sempre rodeada de arte, música e livros. Abraçou o desafio de concretizar a curadoria do espaço Gourmet Experience, do El Corte Inglés, num complemento à sua paixão por comunicação e arte. Com 41 anos e dois filhos, Tristana revela que ainda tem muito por concretizar, e que os filhos a ajudam "a ser uma pessoa melhor".
Em entrevista à Betrend, Tristana conta-nos sobre o seu percurso, desafios e motivações para fazer sempre mais.
1. Conta-nos um pouco sobre ti: a moda, a curadoria e a escrita são algumas das tuas grandes paixões. Como é que estas paixões se refletem no teu dia a dia?
São todas áreas ligadas de certa forma a algum tipo de arte, gosto de tudo o que me faça pensar e que tenha um sentido estético inerente. Todas elas se cruzam na sensibilidade artística, nasci num seio de artistas, onde o indizível ganha sempre forma e a criatividade sempre foi a máxima. A escrita é a minha catarse, sempre foi mais fácil transcrever o meu mundo do que falar nele, apesar de ser uma comunicadora nata. Talvez tenha herdado do meu pai essa maneira de exprimir-me, de entender o mundo e organizar ideias. A moda nasceu aos 17 anos, com a Sara, quando começamos uma carreira de manequins e tivemos o privilégio de nos associarmos a grandes estilistas. É também uma forma de arte e uma expressão de vida que eu amo: a conjunção de cores, a própria criação e a conceptualização são tudo coisas que me fascinam.
Em relação à curadoria, tirei Filosofia, estudei arte, vivi num seio de artistas musicais... a música e a própria arte sempre estiveram presentes na minha vida, não consigo interpretar o mundo sem elas. Lembro-me, quando era pequenina, de o meu pai ter uma polaroid e fotografar tudo o que para ele era belo, enquanto tinha sempre a música ligada e as canetas cheias de tinta permanente. É o meu legado, foi assim que tive consciência do mundo. O facto de conceptualizar nos espaços as diferentes formas de arte, dando-lhes diferentes vidas e, ao mesmo tempo, ajudar artistas, a crescer é algo que me dá um prazer enorme. Juntando a arte da comunicação a este processo todo, não há como não ser agradecida. Trabalho com o coração, tenho sorte em escolhê-lo sempre em tudo o que faço.
2. Para assumires a curadoria do espaço Gourmet Experience, no El Corte Inglés, passaste por uma mudança de carreira. O que te motivou a mudar de gestora de comunicação para curadora de espaços e quais os maiores desafios que encontraste?
Na verdade, não mudei, juntei só a comunicação à arte e tive a coragem de fazer o que me apaixona mais. Mas teve um grande fator de risco grande. Comecei a trabalhar em comunicação mesmo antes de concluir o meu curso. Adoro ativar marcas e passei por vários mundos: televisão, moda, social, política, economia... o El Corte Inglés, nomeadamente o Gourmet Experience, foi um ato de coragem e de grande responsabilidade porque tinha pessoas que são muito especiais no El Corte Inglés que acreditaram e apostaram. Para mim são uma família, e o Gourmet Experience é um espaço que eu amo e pelo qual tenho um carinho profundo. O maior desafio foi mesmo pôr em prática todas as minhas ideias de forma eficiente. Em conjunto com uma equipa em que nos apoiámos incondicionalmente, a consistência, o foco nos objetivos e a vontade positivamente persistente de que vamos sempre conseguir alcançar aquilo em que acreditamos e por que lutamos foi essencial. O espaço em si é um universo de ideias, um terreno super fértil para tentarmos fazer sempre mais. A gastronomia, a música e a arte integrados naquele espaço torna-o ainda mais especial.
3. Tens algum conselho para as pessoas que gostavam se aventurar numa transição como a tua?
Que confiem sempre nelas, que se foquem no que realmente acreditam, que oiçam o coração e lutem com todas as forças por aquilo em que acreditam e construam obra feita, naquilo que sabem que são bons. Medos todos temos, só são bons quando indicadores de alguma prudência. Tentem modificar um bocadinho o mundo com aquilo que verdadeiramente sentem em que são especiais, nunca passando por cima de ninguém e sempre com o foco da humildade, porque é aí que evoluímos.
4. Em outras entrevistas falaste sobre a importância dos teus filhos para ti, eles também contribuem para a inspiração dos teus interesses e trabalho? Como?
Eles são o meu motor. Agradeço-lhes todos os dias, são eles que me fazem crescer, ter uma força invencível... são a minha fonte de inspiração. Quando temos filhos temos a responsabilidade de sermos o melhor que conseguimos, nos exemplos, na vida e nas escolhas. Eles deram-me e dão-me raiz. Amo ser mãe e faz-me bem o peso da responsabilidade: a organização, as rotinas, o facto de lhes ter de dar estrutura... tudo isto obrigou-me a expandir-me como pessoa. Quando nasceram, tanto um como o outro foram despertando o melhor de mim, sem eles seria muito pior pessoa. O António trouxe para o mundo a minha escrita, aprendi a ser mãe, a ser mais estruturada e a aguentar o "voo" para ganhar as raízes. A Francisca devolveu-me as "asas", já com raiz. Os dois dão-me a força para concretizar. E tenho tudo ainda por fazer...
5. De que forma transpões a tua personalidade e os teus valores para os teus diferentes projetos?
Todos os meus projetos têm o meu coração, não consigo trabalhar de outra forma, tenho que me apaixonar pelo que faço, ou com o que me comprometo a fazer. Intensa de natureza, dou-me na íntegra a cada um deles como se fizessem parte de mim. Quando a velocidade começa a entrar em modo "cruzeiro", questiono e tento tornar o projeto melhor. Já com mais serenidade, valorizo-o. Lido com os meus projetos como se fossem pedras preciosas, procurando em cada um deles sempre o melhor.
6. Pessoal e profissionalmente, o que ainda gostavas de concretizar?
Tanta coisa, tenho o mundo à minha espera. Amo viver e quanto mais madura vou ficando, mais vontade tenho de concretizar mais coisas. Amo fazer curadoria e quero fazer uma assinatura minha em diversos espaços, dar crivos diferentes a cada um. Quero escrever muito mais, trazer para o mundo mais livros, comunicar mais e melhor, estudar áreas diferentes, projetos de cultura, viagens, solidariedade e crianças, bem-estar, moda... sou uma "caixinha" de ideias, o maravilhoso é depois concretizar a aprender com cada projeto e ideia.
Outfit: @Burberry
Imagens: @Revista Lux e Artur Lourenço